domingo, 4 de julho de 2010

Capítulo 4 - Bons filhos têm sonhos ou disciplina, filhos brilhantes tem sonhos e disciplina

Capítulo 4
Bons filhos têm sonhos ou
disciplina, filhos brilhantes
têm sonhos e disciplina.
O mais complexo dos planetas:
a mente humana
O professor Romanov dava excelentes aulas de física. Certa vez, levou os alunos a compreender as poderosas forças do universo. Revelou a impressionante força gravitacional entre os planetas e as estrelas. Comentou que muitas estrelas já foram destruídas e que a luz que víamos delas eram apenas os traços do seu passado. Disse ainda que no centro das galáxias existiam os fantásticos buracos negros, cuja força gravitacional era tão grande que sugava e destruía planetas e estrelas inteiros.
— Não duraríamos um milésimo de segundo se estivéssemos na proximidade desses buracos negros — comentou o professor para um extremamente atento grupo de alunos.
Falou que em muitos sistemas as estrelas e planetas se chocavam. Os alunos se arrepiaram, pois não sabiam disso. Pensaram na catástrofe se a Terra se chocasse com o Sol. Apenas a aproximação do Sol inviabilizaria a vida na Terra, imaginaram.
— Sabe quantas galáxias existem no universo? — perguntou Romanov. A maioria dos alunos não tinha a menor idéia.
— Um milhão — arriscou Leonardo, mas achava que estava exagerando.
— Muito mais — disse o professor. — Na realidade, hoje se sabe que há mais de cem bilhões de galáxias e a cada ano descobre-se um número maior. Moramos na Via Láctea, que é uma das inumeráveis galáxias do universo.
— E sabem quantos planetas e estrelas existem em cada galáxia? — novamente indagou o professor.
— Mais de cem — disse Júlia. Ela pensou que talvez houvesse apenas alguns sistemas solares dentro de cada galáxia.
— Mais de mil — respondeu Pedro.
— Erraram de novo. Em cada galáxia há milhões de planetas e estrelas. E imaginem que a Terra é apenas um desses planetas e o Sol é apenas uma dessas estrelas.
Os alunos ficaram perplexos. Nunca refletiram que o universo fosse tão grande. Todos faziam uma viagem espacial fantástica. Todos estavam vibrando, exceto uma aluna: Cláudia. Sua cabeça estava baixa, seu semblante entristecido. Cláudia parecia estar em outro planeta. E estava. Estava no mais complexo dos planetas, no planeta da sua mente, viajando nas suas idéias perturbadoras. Ultimamente ela estava ansiosa, sem concentração e roia as suas unhas.
Percebendo-a cabisbaixa, Romanov delicadamente perguntou:
— Querida Cláudia, o que está acontecendo? Você parece tão distante.
Cláudia levantou sua cabeça lentamente. Fez um momento solene de silêncio. Em seguida, como já havia aprendido um pouco com Romanov a não ter medo de falar o que pensa, respondeu:
— De que adianta conhecer as forças do universo se não tenho força para resolver meus problemas pessoais?
Romanov ficou chocado com seu raciocínio inteligente e realista. Em seguida, como se quisesse pôr para fora aquilo que a sufocava, Cláudia acrescentou:
— De que adianta conhecer outros planetas se nesse planeta há tantas misérias sem solução? O que me motiva a discutir sobre as imensas galáxias que estão a milhões de anos-luz, se o pequeno espaço da minha casa é um mundo opaco, se vejo meu pai triste, sem emprego fixo, sem condições de sobreviver e, pior ainda, sem esperança?
Os alunos ficaram abalados com sua resposta. O professor de física engoliu a seco as palavras de Cláudia. Ele pensou: "Ela tem razão. Por um lado, conhecer o
universo era importante para as pesquisas científicas, mas, por outro lado, muitas vezes a ciência está longe da realidade das pessoas, do mundo real e concreto dos seus alunos".
Romanov sabia que a ciência estava gerando gigantes na informação mas meninos na maturidade emocional, na formação como seres humanos. O sistema educacional do qual ele fazia parte estava seco, frio, distante, desumanizado.
Não poucos alunos da Escola dos Pesadelos eram financeiramente pobres. Alguns pais estavam desempregados ou subempregados, outros ganhavam tão pouco que mal conseguiam ganhar para sustentar sua família. Algumas mães deixavam de se alimentar para que seus filhos comessem um pouco melhor. Alguns pais não dormiam pensando no futuro dos seus filhos.
As dificuldades dos pais eram tão grandes que muitos alunos não tinham esperança de ter sucesso profissional. Pensavam que repetiriam a história deles, seriam humilhados, atravessariam crises financeiras, teriam pouco conforto. Como Cláudia, pensavam: "Se meus pais não tiveram oportunidade! para ter melhor qualidade de vida, dificilmente as teremos".
A esperança dos jovens era o estudo. Entretanto, os alunos saíam com um diploma nas mãos, mas a grande maioria não mudava suas histórias. Devido às aulas serem frias e distante» da realidade dos alunos, eles não desenvolviam espírito! empreendedor, ousadia, sonhos, capacidade crítica de pensar, habilidade para superar frustrações.
Mesmo nas escolas cujos pais eram ricos, os alunos saíam despreparados para os desafios da vida. Eles passavam nas provas curriculares, mas não nas provas sociais. Não sabiam! enfrentar seus problemas. Cresciam na sombra dos seus pais,] não eram autores da sua história. Muitos se tornavam torradores de herança. Eram poucos os que escapavam do velho ciclo da riqueza: avô rico, filho nobre, neto pobre. Muitos filhos de nobres conheciam o sabor da escassez e da miséria.
Romanov, por um lado, estava abalado com o pessimismo e realismo de Cláudia, por outro lado, estava feliz pela sua coragem de criticá-lo, de questionar sua postura em sala de aula. Os alunos estavam aprendendo a debater idéias, questionar seus mestres, criticar o conhecimento e sua utilidade. A Escola dos Pesadelos estava se tornando um canteiro para cultivar a inteligência e não um depósito de informações.
Levando os alunos a usar a força interior
O pensamento de Cláudia levou o professor a se interiorizar e mudar os rumos da aula. Começou a aplicar a física na vida diária. Comentou que há trilhões de planetas e moramos em um deles.
— É importante conquistar o espaço, mas não sabemos cuidar do nosso pequeno espaço, do nosso intrigante planeta. Anualmente novos rios eram poluídos, espécies são extintas e a temperatura global aumenta.
O instigante professor queria entrar no drama de Cláudia, mas ainda não era o momento. Fez algumas órbitas em outros assuntos, e acrescentou:
— Pensem um pouco. Apesar de sermos tão pequenos nesse imensurável universo, somos tão orgulhosos, estúpidos c agressivos, a ponto de nos acharmos donos do mundo. Na realidade, não somos donos de nada, nem da verdade, nem da nossa própria vida. Desenvolvemos tecnologias para nos comunicar com o mundo, para produzir veículos e construir edifícios, mas não desenvolvemos tecnologia para dialogar, para ser tranqüilos, alegres, felizes. Usamos a força para fazer guerras físicas ou guerras comerciais, mas não usamos a nossa força para dominar nossa ansiedade, intolerância, desespero, desesperança.
Os alunos começaram a desenvolver inteligência crítica sobre esses sérios assuntos. O professor admitiu publicamente que Cláudia tinha razão e acrescentou:
— Nós nos preocupamos tanto em informar que esquecemos de formar. O conhecimento está aqui para servi-los e não para que vocês sirvam o conhecimento. Mas, invertemos os valores. — E a estimulou perguntando: — De onde provém a maior força de um ser humano?
Cláudia pensou, pensou, mas não soube responder.
Depois, perguntou para a classe.
— Dos seus músculos — Helena respondeu.
— Da sua força de vontade — disse Júlia.
O professor parou no meio da classe e afirmou:
— Dos nossos sonhos. Sonhos não são desejos. Desejos evaporam no calor das dificuldades, sonhos resistem às altas temperaturas. Você tem sonhos, Cláudia? — perguntou o professor.
A resposta veio rápida e direta. Romanov foi novamente pego de surpresa.
— Minha mãe é doente, mas tem de trabalhar. Meu pai tem crise asmática, às vezes sente intensa falta de ar e, por isso, falta-lhe emprego, não tem trabalho fixo. Estou com 16 anos. Sou uma menina pobre, de origem pobre, que vive num ambiente pobre. Não está vendo os remendos de minha | saia? Faz um ano que não compro uma roupa nova — falou Cláudia desabafando.
Em seguida, uma gota de lágrima escapou de seus olhos. Comovida, ela acrescentou:
— Tenho medo de sonhar. Não sonho porque acho que ' meus sonhos se converterão em frustrações.
Romanov esfregou as mãos no rosto. Ficou com compaixão de sua aluna. Mas não podia sentir dó dela, pois o sentimento de dó não a estimularia a ter fé na vida e em sua capacidade de lutar. Então, olhou firmemente em seus olhos úmidos e repetiu as palavras que sempre falou para Pavlov antes de ele morrer no ataque terrorista em Beslan:
— Eu aposto que você vai brilhar, Cláudia, e se tornar um grande ser humano. Não tenha medo de se frustrar, tenha medo de não sonhar.
Em seguida, escreveu na lousa algumas frases e pediu para todos os alunos proclamá-las como se fossem sua bandeira, seu norte:
Os sonhos não determinam o lugar onde vocês vão chegar, mas produzem a força necessária para tirá-los do lugar em que vocês estão. Sonhem com as estrelas para que vocês possam pisar pelo menos na Lua. Sonhem com a Lua para que vocês possam pisar pelo menos nos altos montes. Sonhem com os altos montes para que vocês possam ter dignidade quando atravessarem os vales das perdas e das frustrações.
Os alunos ficaram abismados com esses pensamentos. Cláudia caiu num estado de reflexão. Como uma sedenta de anua, queria extrair dessas frases cada gota que delas emanava.
Percebendo seus alunos pensativos, o professor colocou mais lenha na fogueira das idéias. Para finalizar a aula, contou uma das histórias mais comoventes e encorajadoras que conhecia.
O câncer físico e o câncer emocional
Romanov disse que, certa vez, na Austrália havia uma jovem chamada Karen. Ela era sociável, bem-humorada, divertida, supervalorizava seus longos cabelos loiros e tinha um grande sonho, o de ser médica pediatra, mas era indisciplinada, não estudava para as provas, não lia livros, não tinha garra. Os amigos não davam nenhum crédito a ela quando dizia que ia ser pediatra.
A bela e alegre Karen vivia sua vida sem grandes tempestades, até que passou pelo mais dramático vendaval, pela mais angustiante experiência. Enquanto brincava e corria na praia num final de semana com seus amigos, sentiu tonturas e levou subitamente um tombo na areia.
Os amigos deram risadas pensando que ela tropeçara. Mas não tropeçou. Simplesmente teve vertigem, ficou tonta, perdeu o equilíbrio e caiu sem controle. Sua face se chocou com o solo fortemente e ficou impregnada de grãos de areia. Como demorava a se levantar, os amigos, abalados, a socorreram. Passado o susto, divertiram-se e Karen ainda curtiu a praia naquele dia.
Todavia, posteriormente, começou a ter alguns sintomas que preocuparam seus pais. Feitos alguns exames, diagnosticou-se que Karen infelizmente tinha um tumor cancerígeno. Como contar a ela? O que falar?
— Às vezes, dar certas notícias provoca um terrível nó na garganta, sufoca a emoção. Saber falar uma informação negativa! irrigando quem está ouvindo com esperança é uma arte e nem sempre se consegue. Karen precisava estar consciente da sua doença, pois tinha de se tratar, fazer cirurgia, mudar sua rotina; — disse o professor Romanov.
Quando os seus pais, junto com seus médicos, lhe! falaram a respeito da sua doença, o mundo desabou sobre ela. Não parava de chorar. Seu pai, em prantos, a abraçou. Sua mãe também a abraçou e lhe disse:
— Vamos vencer, juntos, o tumor! Tenha fé em Deus, tenha fé na vida, minha filha. Você é forte! — E a beijava sem parar.
Passado o desespero, ela sentiu-se mais consolada. No dia seguinte, seus pensamentos ficaram inquietos, perturbados, acelerados. Não parava de pensar no câncer. Tinha um namorado que, no começo, lhe deu força. Mas o medo de nunca mais beijar seus pais e de não abraçar seus amigos e namorado asfixiava seu ânimo.
Romanov comentou que Karen precisava lutar contra um inimigo que não via e que estava dentro dela. Passou por uma grande cirurgia e teve de mudar alguns dos seus hábitos por causa de um longo tratamento, incluindo radioterapia. Os seus cabelos longos e loiros enfraqueceram as raízes e começaram a cair.
Perdeu o ânimo de se vestir, de se cuidar. O sorriso já não era tão freqüente. Não apenas o medo da sua doença a rondava, mas passou a se sentir feia, diminuída e rejeitada. Faltava-lhe auto-estima, sobrava-lhe desânimo.
— Muitos de vocês têm saúde, mas não a valorizam, têm o mundo para explorar e conquistar, mas se sentem desanimados, sem coragem para lutar pelo que amam — ponderou o professor. A turma foi pega de surpresa com essa observação. Cláudia ficou pensativa.
Relatou que Karen colocava um chapéu na cabeça para disfarçar a queda de cabelo, mas todos sabiam que eles ralearam, afinal de contas eram grandes e vistosos. O namorado a abandonou, só aparecia de vez em quando. A menina extrovertida começou a se isolar e se deprimir. Perdeu o prazer de ir à escola. Colocava as mãos na cabeça e pensava: "Todos zombarão de mim". Construiu, sem perceber, alguns conflitos que a bloqueavam.
Suzan, uma grande amiga, foi visitá-la e percebeu seu indecifrável sofrimento. Com muito respeito, ela comunicou seu conflito aos colegas de classe. Eles ficaram profundamente sensibilizados pela amiga, Mas não sabiam o que fazer para que ela não se sentisse rejeitada, para que ela se animasse.
— Karen não podia se deprimir, pois uma pessoa deprimida cuida menos da sua qualidade de vida, diminui sua imunidade, enfraquece sua resistência para lutar contra o câncer. Ela havia emagrecido e apresentava vários episódios de vômito — disse Romanov.
Para desespero dos seus pais, parecia que ela não tinha garra de batalhar pela vida. Eles procuraram uma psicóloga para ajudá-la. Certo dia, andava muito abatida nos corredores do hospital em que se tratava. De repente, ouviu os gritos de alguns meninos
dentro de uma sala. Como sempre gostou de crianças, resolveu entrar. Ao entrar, levou um choque emocional.
Viu seis crianças brincando com bexigas. O que mais a abalou era que todas estavam com a cabeça brilhante, sem cabelos. Todas estavam em tratamento de câncer.
— Vem brincar com a gente — elas disseram. Ela se negou. Então, uma menina de seis anos, pegando em suas mãos, a levou para o centro da sala. Karen estava inibida, há meses não brincava. Todos a envolveram.
Ao ver o sorriso das crianças e a vontade de viver espelhada no rosto de cada uma delas, ela finalmente entrou na folia. Pulou, brincou, fez cócegas, parecia que o mundo tinha parado. Ao mesmo tempo que se divertia, começou a se lembrar do sonho de ser pediatra. Parecia que esse sonho estava sepultado, mas ele estava apenas escondido.
Nesse momento, o professor Romanov suspirou e fez uma pausa. A classe estava num profundo silêncio. Em seguida,! perguntou diretamente para Cláudia:
— Qual a diferença entre sonhos e desejos?
Ela pensou, mas não soube responder.
Posteriormente perguntou para toda a classe. Ninguém imaginou uma resposta. Momentos depois, comentou:
— Desejos não resistem ao calor das dificuldades, sonhos são projetos de vida, têm raízes, por isso resistem aos problemas, brotam mesmo depois de longa estiagem, pois suas raízes nutrem-se dos mananciais profundos da personalidade.
Cláudia ficou comovida com a resposta. Ansiosa, queria saber o desfecho da história. Romanov continuou.
Comentou que Karen tinha mais que um desejo, tinha um sonho, um projeto de vida. Ao se envolver com aquelas crianças, ela começou a resgatar seu sonho. Começou a freqüentar aquela sala, ter o contato com muitas crianças que, sem perceber, apostavam tudo na vida. Quanto mais a freqüentava mais se sentia fortalecida, Ela deu um salto na psicoterapia. As palavras de seus pais também começaram a germinar.
Certa vez, ela fez uma oração e a registrou na capa do seu mais bonito caderno:
— Deus, muitos não têm doenças físicas, vivem anos e anos, mas suas vidas não têm sonhos nem aventura. Dê-me força para lutar pela vida e pelos meus sonhos. Ensina-me a viver cada dia como se fosse eterno.
Karen fortaleceu-se tanto que, mesmo com a queda de cabelo se acentuando, resolveu voltar à escola. Comunicou seu desejo a Suzan. Fazia um mês que não
freqüentava as aulas. Antes de entrar na sala, lembrou-se dos tempos que brincava, mexia com os colegas e se divertia sem preocupações. De repente, ao entrar na sala, Karen levou um susto, ficou perplexa. Não conseguia acreditar na imagem que via.
Nesse momento, o professor Romanov fez outra pausa. Os alunos ficaram desesperados, queriam que ele continuasse a história. Mas ele queria fazê-los pensar.
— Sabe o que ela viu e a perturbou? — indagou Romanov.
Ninguém imaginou. Realmente era quase inimaginável.
— Viu a solidariedade! Viu a maioria dos seus amigos e das suas amigas calvos, entre elas Suzan — disse o professor. Em seguida, eles lhe disseram:
— Nós raspamos a cabeça para mostrar que estamos juntos com você nessa luta, para mostrar que nós amamos você do jeito que você está e que você é linda mesmo com sua queda de cabelo.
Foi um gesto de afetividade único. Karen caiu num doce e incontrolável pranto. Não conseguia dizer nenhuma palavra. Foi abraçada e beijada por todos os seus amigos. Estava atônita, flutuava diante da manifestação de carinho. Raramente o amor foi tão longe.
Na classe de Romanov, alguns alunos começaram a chorar, entre eles Cláudia.
— Os amigos de Karen aprenderam a se colocar no seu lugar, perceberam seus sentimentos ocultos e a apoiaram num momento tão difícil da sua vida. Aprender a colocar-se no lugar dos outros é uma das mais importantes características da inteligência, mas infelizmente a maioria dos jovens não a desenvolve. Essa característica é a melhor vacina contra as rejeições, discriminação e isolamento.
Em seguida, o professor ponderou que alguns casos de violência na escola, como alunos que saem atirando em seus! colegas de classe e professores, poderiam ser evitados. Como? Se aprendêssemos a perceber o sentimento das pessoas, compreender a linguagem do coração, decifrar o sofrimento que as palavras nunca disseram.
—E daí, professor? Karen venceu seu câncer? — perguntou Alex, ansioso para saber o final da história.
— Ela ainda teve vômitos, sentiu dores e se submeteu a outra cirurgia. Mas sua garra, coragem e fome de viver foram mais fortes. Dedicou-se com disciplina ao seu tratamento. Além disso, ela sei soltou, começou a participar de festas, a conviver sem medo comi as pessoas. Sua auto-estima melhorou, seu ânimo reacendeu. Por fim, Karen triunfou, venceu o câncer. Mas ela já era uma vencedora, pois já havia feito de cada dia um momento eterno.
A classe vibrou. Além disso, Karen foi disciplinada em outra coisa: na transformação do seu sonho em realidade. Ela, que não morria de amor pelos estudos, começou a se destacar, estudava não apenas para as provas, mas por causa do seu projeto de vida. Começou a ler livros, jornais, interpretar melhor os textos, debater idéias. Assim, passou a ter um ótimo desempenho na escola, A turma surpreendeu-se.
Por fim, entrou na faculdade de medicina. Após o término da faculdade, a dra. Karen se especializou em oncologia pediátrica, médica que cuida de câncer na infância. Brincava, sorria, parecia uma palhaça diante das crianças. Raramente se viu uma médica que amava tanto a vida e que batalhasse tanto pela vida de cada criança.
Inspirando seus alunos
Após contar essa história, o mestre da vida, Romanov, se aproximou de Cláudia e a surpreendeu. Admitiu que ela tinha razão ao observar que a ciência era, muitas vezes, seca e insensível. Os amigos de Karen perceberam a dor dela, mas ele não havia percebido o sentimento de sua aluna.
— Cláudia, falo de planetas que estão a milhões de quilômetros distantes de mim com tanta segurança, mas às vezes não sei reconhecer os sentimentos dos meus alunos que estão tão próximos. Não percebi seu sofrimento. Desculpe-me. — Em seguida, aproximou-se dela e a abraçou.
Cláudia, que estava comovida com a história, ficou boquiaberta com seu mestre. Jamais viu um professor pedir desculpa para um aluno. Antes de bater o sinal para terminar a aula, Romanov fez o desfecho:
— Além do câncer físico, há o câncer psíquico. Lutem contra o câncer do preconceito, do medo, da falta de sonhos e da falta de garra para transformar seus projetos de vida em realidade. Os nossos maiores inimigos estão dentro de nós.
Sob um clima de intensa inspiração, o professor Romanov escreveu na lousa em letras enormes:
Bons jovens têm sonhos ou disciplina. Jovens brilhantes têm sonhos e disciplina. Pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas, que nunca transformam seus sonhos em realidade, e disciplina sem sonhos produz servos, pessoas que executam ordens, que fazem tudo automaticamente e sem pensar.
Virando o jogo
Nesse momento, Cláudia percebeu que foi injusta com seus pais. Sua mãe, apoiada pelo pai, a incentivava a estudar para que pudesse construir um destino diferente do deles. Cláudia tinha disciplina, mas não tinha sonhos, Não estava vivendo as palavras de Alexandre Graham Bell: "Se andarmos apenas por caminhos já traçados, chegaremos apenas onde os outros chegaram".
Os pais eram pobres e doentes, mas eram sábios. Só que ela não enxergava a sabedoria deles. Após ouvir a história e ver as reações de Romanov, saltaram à memória frases que seus pais sempre lhe diziam, mas que só agora pôde valorizar intensamente. Pedindo permissão, levantou-se e foi escrevê-las na lousa:
Um ladrão rouba um tesouro, mas não furta a inteligência. Uma crise destrói uma herança, mas não uma profissão. Não importa se você não tem dinheiro, você é uma pessoa rica, pois possui o maior de todos os capitais: a sua inteligência. Invista nela. Estude!
Os alunos, depois de abraçar afetuosamente Cláudia, anotaram essa frase e a do professor Romanov. Fizeram delas um par de asas para voar alto. Cláudia sonhou em ser bióloga e trabalhar com células-tronco. Desejou aventurar-se pelo mundo da genética, pois aprendeu a se aventurar pelo mundo dos sonhos...

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